quarta-feira, 17 de agosto de 2011
Inverno
sábado, 6 de agosto de 2011
Descendes do Sol como a luz
terça-feira, 3 de maio de 2011
Devaneio
domingo, 24 de abril de 2011
Viagem
quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
Mitologia Ilusória IV
02-09-2011
terça-feira, 25 de janeiro de 2011
Quando o homem decidiu ser máquina
03-03-2010
domingo, 16 de janeiro de 2011
Metrópole
A cidade está fria.
É noite e o seu silêncio esmaga-me como num deserto,
Embora a cidade nunca durma.
É noite e vejo um sem-abrigo procurando uma refeição num contentor vazio,
Logo seguido por dois, três mais, numa esquina tentando disputar o calor
Duma fogueira há muito adormecida.
A cidade está cega.
São sete e meia da manhã e entro numa estação de metro
Que me suga com o seu calor imundo e fétido,
Onde se refugiam animais de tamanho descomunal.
O trem circula na linha com velocidade,
Ninguém se atreve a falar, talvez por estar em plena hora de ponta
E os hálitos se tocarem no curto espaço onde se move o ar.
Encontro-me em plena Babel, mas uma Babel taciturna e glacial,
Onde as pessoas se olham com suspeita,
Como se uma revolução se fosse iniciar neste preciso momento.
Mas essa há já muito terminou, e as nossas vidas continuam
Como se nada se tivesse passado,
Como se o poder do poder tivesse sempre a razão e poder do povo não.
A cidade está muda.
Mas a cidade também irradia luz e promete sonhos:
Os seus edifícios góticos e clássicos, as suas ruas movimentadas,
A moda, os museus, as óperas e os teatros,
As esplanadas junto à estrada e a multidão que nelas se senta
De cigarro entre os dedos, café na mão e jornal na mesa.
A cidade está distinta.
Encontrar glamour no rio Sena, em piqueniques junto à Torre Eiffel
E em viver no Trocadéro.
Passear em Saint Michel, namorar nos Campos Elísios,
Comer baguettes a qualquer hora, ou foie gras às refeições,
E beber champanhe ou vinho num apéro.
Ler um livro nos jardins de Luxemburgo,
E quando o há,
Acolher o Sol com todo o meu corpo
E deixar que me ruborize a face.
Ver casais na Pont Des Arts a jurar amor eterno durante o dia,
E a festejar a juventude durante a noite…
A cidade é luminosa, visionária e intemporal,
Quer seja dia ou de noite os turistas pelas suas ruas passeiam,
E eu finjo ser um deles porque fico tão cega quanto a cidade,
E ressuscita-me sempre a mesma esperança
De que as suas atracções me manterão a seu favor mais uns dias,
Viva na cidade branca e no seu tempo cinzento,
Confundida nos seus muros, pontes e edifícios fechados.
A cidade está só.
E eu tal como ela morro neste desânimo inebriante
Mas delicioso, porque a cidade me confunde,
Me assombra com os seus contrastes e me conquista
Com o seu mistério.
A cidade está fria,
Mas a cada noite com sonhos e reflexões me aquece.
Um novo dia começa, a cidade continua fria,
Porém eu sinto-me cálida e destemida,
E desta realidade prometo nunca mais acordar.