quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Mitologia Ilusória IV

Sorvemos sofregamente
Cada desfragmentação somática
Enquanto nos deixamos extenuar no espaço.
Mas já não há espaço
Entre nós.
Encontro apenas voluptuosos vestígios
De álcool e tabaco,
Ânsia e uma pseudo-privação
Enraizadas nos nossos cabelos,
Inveteradas nas nossas vestes,
Perdidas entretanto com eufemismos,
Físicas e químicas, corpos celestes.
Cheiro os cálices de vinho,
Já desfeitos sobre a mesa, poesia nocturna
Nas madrugadas do ser.
Dispensa às palavras, contas perdidas
Às horas da delicada linha de engano sem fim.
Receios recíprocos, vontades semelhantes,
Fantasias, impulsos, desejos, paixão.
Tiro-me de mim com entusiasmo,
Acabaram-se os termos no nosso contrato,
Morte à condenação.
Virginais destinos banhando-se
Ao encontro dos mares de êxtase
E imoralidades. Somos imortais.
Já nem há Deuses no Olimpo,
Que se não resignem às nossas
Intenções mais extremas,
Prazenteiras alegorias conduzindo
À exaustão… E estamos de volta à terra.
Todo o cosmos ouve agora o eco da vozearia
Do passado que fomos, as conversas do agora,
Os sussurros do amanhã.
Até lá permaneceremos em surdina,
Entrelaçados fugidiamente em preces e questões,
Abraços a Vénus, Cupido e Afrodite.
Consigo já vislumbrar o alvorecer, ouço cânticos
E melodias ao longe.
Sabes o que significa…?


02-09-2011