segunda-feira, 9 de abril de 2012

Vácuo

Dialoguemos as nossas palavras interditas
Neste deserto de silêncio.
Envia-me pela noite os teus tormentos,
Não importa se gastarmos a agua dos oceanos,
A neve das montanhas,
As constelações do firmamento.
Há coisas que são eternas e no silêncio tudo é infinito.
Mas aqui mesmo me asseguro de que terminou a procura,
O vento transportou em tempestade todas as cinzas
Que restavam de ti. Não te vejo nas ruas, na casa,
no sono ou na música. Desfragmentação total,
fundamental.
Não espero escutar-te no rio que corre ao pé do prado,
O sangue circula-me num tumulto de intempérie,
E nem as tuas mãos orvalhadas me amanhecerão no espírito.
Não há mais chamados, mais gritos, mais interjeições.
Dói-me a partida cheia de promessas,
Vocábulos pronunciados sem intenções, devastados pelo terror
Das (in)diferenças, pela crueldade de evitar o Sol, a lua,
Os passeios no bosque.
O temor a essa luz que nos entrava pelo corpo,
Ao calor que nos crescia na pele, a dar um pouco mais de nós
Ao horizonte.
Liberto-me, não serei mais prisioneira dos teus mudos pareceres
De juízos extintos, aniquilados com o teu abandono,
E escaparei também sem pré-aviso
numa andrajosa nuvem de saudade.
Voo, sem asas, nas nossas palavras interditas.
Neste instante renasço, nascente e foz.
Neste instante renasço, desintegro-me de ti.

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